Texto originalmente publicado por Carlos Felipe dos Santos em 17/jan/23. Atualizado em 02/12/2025.
Disponível em https://medium.com/p/11bd914284e6
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Muitos pensam que, quando alguém tem uma crise convulsiva, ela sofre de epilepsia. Mas não, isso não é verdade. Há uma grande diferença entre os dois.
Imagem: Gerd Altmann por Pixabay.
Impulsos elétricos
Os nossos movimentos, como andar, segurar um copo etc, só são possíveis por conta de impulsos elétricos que são gerados no cérebro e transmitido aos membros por meio dos nervos. Ações como pensar, lembrar, respirar, entre outras, também dependem destes impulsos.
Quando a geração de corrente elétrica no cérebro fica desorganizada, ele sofre um curto circuito e, com isso, há diversas manifestações clínicas, que resultam no que chamamos de convulsão. Logo, podemos definir convulsão como atividade elétrica cerebral anômala.
Causas da convulsão
Diversos são os motivos que podem causar uma convulsão, e qualquer pessoa pode ter uma crise, em qualquer idade:
Intoxicação por álcool ou drogas;
Infecções;
Traumas (acidentes automobilísticos ou pancadas na cabeça);
Tumor;
Febre alta;
Hipoglicemia;
entre outros.
Tipos de convulsão e características
Existem vários tipos de convulsão, e elas podem se manifestar de diferentes maneiras. As crises variam desde episódios discretos, como uma crise de ausência, passando por tremores localizados na boca, rosto ou mãos, até episódios mais intensos, como um desmaio seguido de movimentos musculares involuntários, com salivação excessiva e possível perda do controle dos esfíncteres (urina ou fezes).
Esse último tipo, caracterizado por rigidez inicial seguida de abalos musculares, é conhecido como crise tônico-clônica, também chamada de “Grande Mal”, e é a manifestação mais comummente lembrada pela população.
Em 2025, a International League Against Epilepsy (ILAE) atualizou a classificação das crises epilépticas, tornando a nomenclatura mais simples, clara e útil na prática clínica. A classificação atual organiza as convulsões em dois grupos principais: crises focais e crises generalizadas.
1. Crises focais:
Nas crises focais, a descarga elétrica anormal começa em uma área específica de um dos hemisférios cerebrais. Dependendo da região afetada, a consciência pode estar preservada ou prejudicada. Quando a consciência está preservada, podem surgir movimentos involuntários de uma parte do corpo, alterações sensoriais como formigamento, sensação de calor ou percepção de cheiros estranhos, além de palpitações, sudorese e sensação de déjà-vu. Já quando a consciência está prejudicada, a vítima pode apresentar automatismos, como mastigação repetida, esfregar as mãos ou manter o olhar fixo. Após o episódio, a pessoa geralmente recupera a consciência com algum grau de amnésia sobre o que ocorreu.
2. Crises generalizadas
As crises generalizadas envolvem desde o início os dois hemisférios cerebrais. Entre elas, destacam-se as crises de ausência, nas quais a pessoa interrompe subitamente a atividade, fica com o olhar fixo e não responde, retornando ao estado normal em poucos segundos; e as crises tônico-clônicas, também chamadas de “grande mal”, em que a pessoa perde a consciência, apresenta rigidez intensa do corpo e, em seguida, passa por uma fase de abalos musculares associados à salivação excessiva e, em alguns casos, perda involuntária de urina ou fezes.
Epilepsia
Quando as crises convulsivas se tornam recorrentes — seja por alterações do sistema nervoso central, predisposição genética, sequelas de trauma ou outras condições neurológicas — a pessoa recebe o diagnóstico de epilepsia, que é uma doença crônica caracterizada pela repetição dessas crises ao longo do tempo. Nesses casos, é necessário utilizar medicamentos de uso contínuo e, em situações selecionadas, considerar procedimentos cirúrgicos ou outras terapias avançadas para controlar os episódios. Assim, é importante reforçar que a convulsão não é uma doença, mas sim um sintoma. A doença, de fato, é a recorrência dessas crises, conhecida como epilepsia.
Primeiros socorros:
Ao contrário do que muitos pensam, a epilepsia não é transmissível. Como não é possível prever uma crise ou mesmo controlá-la, as medidas de primeiros socorros no cenário pré hospitalar (ou seja, em casa, na rua, ou no trabalho), se restringem a evitar o agravamento do quadro:
Afaste objetos próximos que podem machucá-la;
Afrouxe as vestes;
Coloque as mãos embaixo da cabeça para evitar traumas;
Coloque a cabeça de lado, se possível, para facilitar o escoamento de saliva e a respiração;
Acione o SAMU ou Corpo de Bombeiros.
Colocar uma colher ou outro objeto na boca, ou mesmo o próprio dedo na intenção da facilitar a respiração da vítima, além de não ajudar, pode causar um segundo acidente, pois a vítima pode se machucar ou mesmo cortar o seu dedo por conta dos movimentos involuntários.
Não dê nada para a vítima cheirar ou beber durante e nem após a crise. Ajude-a na recuperação da consciência, já que, geralmente, ela volta extremamente confusa e até mesmo agressiva.
Por fim, é importante monitorar a respiração, pois, se ela não recobrar a consciência e não estiver respirando, ela está em parada cardiorrespiratória. Neste caso, aplique as medidas de RCP — Reanimação Cardiopulmonar.
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